O Mercado Engenheiro Silva era onde quase sempre íamos aos sábados de manhã. Três ou quatro cestos de compras repartidos pelos Pais e por mim, saímos a pé, pisávamos o alcatrão torto das raízes que as árvores sempre teimam em deitar e, pela Rua Fresca, descíamos até ao Jardim.
Nas manhãs de Verão era aí que gansos e crianças disputavam o silêncio e onde, àquela hora, as folhagens já não disfarçavam o primeiro calor do dia.
Havia uma pedra saliente, cravada no chão, que eu nunca deixava de pisar. Luzidia, guardava uma reentrância escavada para receber a enorme tranca de ferro do portão do Mercado. Uma vez transposta, dava-se início a um circuito já mais ou menos traçado. Frutas, peixe, legumes e carne, as bancas do costume e as conversas de sempre. Olhe este peixe que eu já tinha guardado para si, faço-lhe tudo a 2$50, leve estas que não se arrepende, olhe q’isto é só mel.
Carregados os cestos, o regresso. O Jardim novamente - agora mais quente - depois pela Rua Fresca acima, devagar, até à Igreja e depois a casa.
O Mercado ficou-me gravado como rotina matinal dos sábados. Não me lembro das caras, mas recordo-me do resto que está impresso nos sentidos - a algazarra de sons, o cheiro do peixe, o da carne cortada e o da criação que em pequenas capoeiras ali terminava a vida.
Em minha casa nunca se ia à praça, dizia-se ir ao Mercado. Hoje é um sítio arrumado, certificado, mas eu ainda gosto de por lá passar.
Ali nada é meu, mas quase podia ser.
---------------------------------------
“O que vem à rede” termina hoje, aqui.
Transforma-se e muda-se para o “Mercado Engenheiro Silva”.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Por que não?
Ao início fiquei surpreendido. Pior, céptico. Victoria Abril a cantar bossa com Rosa Passos?
Bom... pois a mim parece-me bem!
Bom... pois a mim parece-me bem!
Etiquetas:
música brasileira,
rosa passos,
victoria abril
segunda-feira, 21 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
"Eu e os meus irmãos"
"Eu e os meus irmãos” é o nome de uma reportagem da SIC acerca dos órfãos de SIDA em Moçambique.
Já tinha ganho um prémio para melhor imagem no Festival International Du Grand Reportage d'Actualite (FIGRA), em França, agora foi o Prémio AMI - Jornalismo Contra a Indiferença.
Quando se vê esta reportagem não mais se esquece.
Ou então vê-se e faz-se depois por não se pensar mais nisso - que é como eles dizem quando se referem ao pai e à mãe que não têm.
"Eu e os meus irmãos"
Jornalista: Cândida Pinto
Repórter de imagem: Jorge Pelicano
Já tinha ganho um prémio para melhor imagem no Festival International Du Grand Reportage d'Actualite (FIGRA), em França, agora foi o Prémio AMI - Jornalismo Contra a Indiferença.
Quando se vê esta reportagem não mais se esquece.
Ou então vê-se e faz-se depois por não se pensar mais nisso - que é como eles dizem quando se referem ao pai e à mãe que não têm.
"Eu e os meus irmãos"
Jornalista: Cândida Pinto
Repórter de imagem: Jorge Pelicano
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Pensar, pensar
Junio 18, 2010 por Fundação José Saramago
Creo que en la sociedad actual nos falta filosofía. Filosofía como espacio, lugar, método de reflexión, que puede no tener un objetivo concreto, como la ciencia, que avanza para satisfacer objetivos. Nos falta reflexión, pensar, necesitamos el trabajo de pensar, y me parece que, sin ideas, no vamos a ninguna parte.
Publicado em “Otros Cuadernos de Saramago”, no dia em que este desaparece.
Creo que en la sociedad actual nos falta filosofía. Filosofía como espacio, lugar, método de reflexión, que puede no tener un objetivo concreto, como la ciencia, que avanza para satisfacer objetivos. Nos falta reflexión, pensar, necesitamos el trabajo de pensar, y me parece que, sin ideas, no vamos a ninguna parte.
Publicado em “Otros Cuadernos de Saramago”, no dia em que este desaparece.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Quando, por mais que se tente, não se consegue compreender
Há coisas que nos deixam de queixo caído, com vontade de bradar aos céus. Veja-se – de preferência até ao final – esta gravação de 1988 de um programa da televisão francesa.
Haverá alguém a duvidar do bom gosto musical, da voz e da presença em palco desta artista?
Diz o apresentador francês no final do vídeo: “aprés Linda de Suza, le Portugal nous a proposé Guida de Palma”.
Agora que ficámos a perceber que afinal se trata de uma portuguesa, ouçamos esta faixa de um seu CD, editado já em 2010.
E, já agora, esta.
Bastam dois ou três cliques no Google para ficar a saber que Guida de Palma – a quem, em 1985, poucos meses antes da sua morte, Jaco Pastorius caiu como uma mosca no mel ao saltar para o palco para tocar durante a sua primeira actuação ao vivo, em Paris – tem créditos mais do que muitos a cantar, compor, a estudar música e produção musical, bem como a colaborar como vocalista principal e/ou de suporte com, entre outros menos conhecidos, os Kyoto Jazz Massive ou os Pet Shop Boys.
Após anos a viver no estrangeiro, Guida de Palma voltou a residir em Portugal onde, para além de editar pelo menos 3 discos, continua a liderar e participar em projectos diversos (entre os quais os Jazzinho), a dar aulas de canto, a gravar e a fazer produção musical para outros artistas.
Enquanto deambulava por prateleiras de jazz e de música brasileira deparei com ela – um CD em seu nome com produção do (literalmente) grande Ed Motta.
Ouvi, procurei saber quem era e ouvi mais, e mais, e mais música dela. Depois de me cair o queixo e de ficar com vontade de bradar aos céus, afigura-se-me completamente incompreensível e injusto que nem uma só vez eu tenha ouvido ou lido neste País uma referência que seja a Guida de Palma.
Ou ando muito distraído ou há coisas que, por mais que se tente, não se conseguem compreender.
Haverá alguém a duvidar do bom gosto musical, da voz e da presença em palco desta artista?
Diz o apresentador francês no final do vídeo: “aprés Linda de Suza, le Portugal nous a proposé Guida de Palma”.
Agora que ficámos a perceber que afinal se trata de uma portuguesa, ouçamos esta faixa de um seu CD, editado já em 2010.
E, já agora, esta.
Bastam dois ou três cliques no Google para ficar a saber que Guida de Palma – a quem, em 1985, poucos meses antes da sua morte, Jaco Pastorius caiu como uma mosca no mel ao saltar para o palco para tocar durante a sua primeira actuação ao vivo, em Paris – tem créditos mais do que muitos a cantar, compor, a estudar música e produção musical, bem como a colaborar como vocalista principal e/ou de suporte com, entre outros menos conhecidos, os Kyoto Jazz Massive ou os Pet Shop Boys.
Após anos a viver no estrangeiro, Guida de Palma voltou a residir em Portugal onde, para além de editar pelo menos 3 discos, continua a liderar e participar em projectos diversos (entre os quais os Jazzinho), a dar aulas de canto, a gravar e a fazer produção musical para outros artistas.
Enquanto deambulava por prateleiras de jazz e de música brasileira deparei com ela – um CD em seu nome com produção do (literalmente) grande Ed Motta.
Ouvi, procurei saber quem era e ouvi mais, e mais, e mais música dela. Depois de me cair o queixo e de ficar com vontade de bradar aos céus, afigura-se-me completamente incompreensível e injusto que nem uma só vez eu tenha ouvido ou lido neste País uma referência que seja a Guida de Palma.
Ou ando muito distraído ou há coisas que, por mais que se tente, não se conseguem compreender.
sábado, 12 de junho de 2010
segunda-feira, 7 de junho de 2010
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Aforismo de final de semana
There can't be any crisis next week. My schedule is already full. - Henry Kissinger
terça-feira, 1 de junho de 2010
Ooops!
Meshell Ndegeocello, do clássico, imprescindível álbum de estreia de 1993, "Plantation Lullabies".
Jazz, acid, hip-hop, funk... o que se quiser..., mas do melhor.
Jazz, acid, hip-hop, funk... o que se quiser..., mas do melhor.
domingo, 30 de maio de 2010
sábado, 29 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
domingo, 16 de maio de 2010
Síntese
"There's nothing you can't do" pode parecer excessivo enquanto lema de uma vida. Neste caso é o de duas e fica aqui bem justificado.
O novo álbum de Raul Midón - Synthesis - confirma como se deve seguir com interesse tudo o que ele faz.
E depois há aqui o dedo de Larry Klein, produtor, a mostrar ao longo de décadas como se pode ser uma espécie de Midas na música (Joni Mitchel, Julia Fordham, Madeleine Peyroux, Luciana Souza, Melody Gardot...).
O novo álbum de Raul Midón - Synthesis - confirma como se deve seguir com interesse tudo o que ele faz.
E depois há aqui o dedo de Larry Klein, produtor, a mostrar ao longo de décadas como se pode ser uma espécie de Midas na música (Joni Mitchel, Julia Fordham, Madeleine Peyroux, Luciana Souza, Melody Gardot...).
Subscrever:
Mensagens (Atom)