Mostrar mensagens com a etiqueta história. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta história. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 2 de abril de 2009

L’ultimo castrato

Também a História e a Música têm destas coisas sinistras. O recurso a jovens castrados para a interpretação de música sacra e representação de papéis operáticos foi largamente usado entre o final do século XVI e a primeira metade do século XIX. O papel que esta prática desempenhou está longe de ser menor e compositores como Handel e Mozart criaram peças especificamente pensadas para determinados castrati.

Em 1870, a prática da castração foi criminalizada em Itália e só mais tarde o uso de castrati nos corais religiosos foi definitivamente banido pelo Papa Pio X. Até então, a monstruosidade foi sendo hipocritamente condenada pela Igreja, ao mesmo tempo que esta continuava a angariar jovens emasculados, encontrando no argumento do facto consumado, ou em supostas justificações médicas, as razões para se desculpabilizar.

In Italy, in particular, the castration of young, usually poor, choir-boys was very common. Poor families offered their sons for considerable financial reward. However, few families admitted that they had deliberately had their son castrated. Medical alibis, such as a riding accident, an accidental blow, an animal bite, were used to explain the reason for the castration.
(http://www.sonyclassics.com/farinelli/about/ffarinelli.html)


Após a utilização inicial de castrati na música sacra, foram criadas no século XVIII as "Opera Seria", género desenvolvido e apurado à medida da técnica das suas vozes. No auge da sua popularidade, os castrati angariavam poder e influência junto das cortes e da Igreja, ao mesmo tempo que o público os transformava em verdadeiras estrelas.

They attained a level of popularity similar to that of the rock stars of our time. 18th Centur
y groupies went so far as to wear medallions bearing the portraits of their favorite castrati, a fashion not dissimilar to the pins and T shirts fans of rock stars wear today.

As audiências reagiam com histeria às suas proezas (?) vocais, saudando as melhores actuações aos gritos de “Evviva il coltello!”. O mais célebre castrato, Farinelli, foi uma superstar do seu tempo, com características em tudo semelhantes às dos ídolos musicais de hoje.

The whole of Europe was infatuated with castrati. They were adored where ever they performed. In Austria, England, Germany, Poland and Russia they were received as deliriously at the courts of Emperors and Tsars as at public theatres. They were idolized as much as today's androgynous rock stars such as Michael Jackson, David Bowie or Prince who, two centuries later, have the same international notoriety and delight crowds around the world.

Em vez da imensa informação existente acerca dos castrati, o que vale a pena referir aqui é o único registo áudio existente de uma dessas vozes.

Alessandro Moreschi (1858-1922), foi l’ultimo castrato, pertencendo ao Coro da Capela Sistina, do qual chegou a ser regente. Entre 1902 e 1904 (muito depois do período em que terá atingido o auge vocal) fez um conjunto de gravações sonoras, registadas em cilindros de cera, do qual faz parte esta penosa Ave Maria de Gounod/Bach.

É tudo menos agradável. Tristíssima aberração, sem valor artístico, vale pela experiência perturbadora de ouvir o resultado do trabalho sinistro de um “coltello”.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

9 de Abril de 1860

Um grupo de investigadores deu-nos agora a possibilidade de ouvir o mais antigo registo sonoro conhecido. Esta gravação - se assim lhe podemos chamar - foi feita pelo francês Édouard-Léon Scott de Martinville através da utilização de um fonautógrafo, aparelho que ele próprio criou.

O fonautógrafo - aparelho que
conseguia gravar uma "imagem" do som mas não permitia a sua reprodução - era composto por uma campânula que captava o som e conduzia a vibração do ar até uma membrana. A esta ficava presa uma agulha cuja vibração resultante riscava então o negro de fumo depositado sobre a superfície de um cilindro rotativo - no fundo, uma espécie de "sismógrafo sonoro".

No dia 9 de Abril de 1860, Leon Scott registou a voz de alguém cantando "Au Clair de la Lune". Com o recurso a computadores, o que estes investigadores agora fizeram foi traduzir para som sintetizado as fotografias de alta resolução tiradas aos cilindros fumados que estão à guarda da Academia de Ciências em Paris.

Como referência aqui fica primeiro uma versão moderna de "Au Clair de la Lune" e depois esses 10 segundos históricos, agora tornados ''o primeiro som".